(Francesco Costa)
Apesar das três décadas que foi
registrado o primeiro caso de HIV/AIDS no mundo falar deste assunto, requer
certa cautela. Apesar do tempo, e ser um “problema de todos”, ainda é um tabu e
poucos se interessam em conhecê-lo.
A AIDS, assim como várias outras
doenças, ainda não tem cura, mas enquanto cientistas tentam descobrir a cura
para a tal ativistas tentam, quase que inutilmente, minimizar os gigantescos
estragos causados pelo preconceito, fruto da falta de conhecimento e
desinteresse em saber mais ou, pelo menos, o suficiente sobre o assunto.
Vejamos, por exemplo, que até
hoje, trinta anos depois, muita gente não doa sangue ou não vai à manicura por
temer contrair a Aids. Outro grande número usa camisinha e não troca de
parceiro, por achar que isto é fatal na contração de HIV/Aids. E o que dizer
dos que não transam com pessoas soropositivas e evitam até contato social com
elas? Tudo basbaquice.
É claro que agulha ou seringa
contaminada pode transmitir o vírus da doença, disto nenhum infectologista
discorda, bem como é possível contrair a mesma através do alicate da manicura.
Mas o fato aqui em questão é que enquanto as pessoas se privam de salvar vidas,
através da doação de sangue, ou até de ir à manicura por temor, ou só faz sexo
com camisinha, tomando os devidos cuidados para não contrair Aids, inúmeras
outras doenças, como hepatite, infectam e matam.
Transar sem camisinha é um risco
que ninguém deve correr, mas, infelizmente, ao confirmar, por meio de teste,
que o parceiro não é soropositivo, a grande maioria das pessoas abre mão do
preservativo, sem perceber que a Aids não é o único temor existente.
Quem disse que transar com
pessoas soropositivas sem camisinha nunca pega Aids mentiu. Mas se você
descobriu que seu parceiro, ou aquela pessoa que você está a fim de pegar,
namorar, ficar ou casar é soropositivo, siga em frente, pegue, namore, fique,
ou até case! Para isto, basta vocês só transarem sempre de camisinha.
A Aids veio para tornar as
pessoas mais humanas, conhecer suas limitações. Sabe por que as pessoas não
pulam do décimo andar do prédio quando o elevador quebrou, ao invés de descer
pela escada? Porque sabem que a possibilidade de morrer é praticamente 100%.
Então, a Aids nos faz entender que somos limitados e nem sempre donos do
próprio destino.
Um ativista soropositivo me
afirmou que a Aids o fez viver melhor. “Parei de beber, pois fumava demais;
parei de fumar, o que fazia com exagero; investi melhor meu dinheiro, e hoje
tenho posses, tiro férias, ajudo pessoas, namoro e ainda me sobra tempo”.
As afirmações são de Adelar
Serena, que salienta não recomendar que alguém contraia, mas diz isto apenas
para que pessoas entendam que a Aids pode ser, ao contrário do que muitos
pensam, o começo de uma nova vida, podendo ser esta melhor.
Outro caso curioso que um
ativista me relatou é que havia um casal, sendo que apenas a mulher era
soropositivo, e naturalmente o esperado era que o marido cuidaria da mulher que
deveria pela ordem, criada pelas pessoas, morrer primeiro. Mas, contrariando a
tal ordem, o marido morreu de acidente automobilístico e a viúva, mesmo com
Aids, ainda hoje vive.
Gosto de citar sempre o que fala
uma pessoa que hoje considerava “meu amigo”, Wilton José da Silva, que viveu 28
anos com AIDS, e morreu recentemente: “Todo mundo vai morrer, com ou sem AIDS”.
Isto é fato.
Façamos as contas: há inúmeras
pessoas que já nasceram com alguma doença e vivem a perder de vista! Há ainda
outras que por acidente, ou devido à profissão, contraíram doenças como hérnia
de disco, osteoporose, labirintite, hipertensão, diabetes, depressão etc. e
tomam, por causa destas doenças, remédios controlados pro resto da vida. E daí?
Nunca vi nenhuma delas ser discriminada, rejeitada, nem muito menos ser alvo de
preconceito.
Lembrei-me agora do que me
ilustrou Dr. Alan Herbert, coordenador do CTA de Parauapebas. Ele disse que se
uma mulher descobre que tem câncer de mama as vizinhas, até mesmo aquela mais
afastada, se compadece e passa a visitá-la frequentemente. Mas se em outra
situação descobre que a tal tem Aids a vizinha mais próxima e até algumas
“amigas” se afastam e arremetem contra a tal toda a culpa por contrair o vírus.
“Eu bem sabia que fulana era vadia. Eu que não quero uma amizade com ela”,
afirmará, certamente.
É, sinceramente, uma pena que
enquanto muita gente soropositiva espera há anos – e alcançará – a cura para
AIDS, outras, preconceituosas, morrerão, talvez, sem a temida doença, e serão
enterradas em seu próprio preconceito.