Náufragos
(Por Francesco Costa)
Três companheiros navegavam em um barco frágil e neste
transportavam um valor razoável em ouro, que pretendiam guardar em local mais
seguro.
Um deles, muito apegado a bens materiais, planejava, durante
o trajeto fluvial, enterrar os companheiros, dos quais tinha profunda inveja
pela sabedoria e competência, junto com o pequeno tesouro e ficar com tudo pra
si.
Porém no meio do caminho chegou uma tempestade inesperada a
embarcação não resistiu e se partiu ficando os três e o tesouro à deriva. O
ambicioso, durante a tempestade e depois do naufrágio, não desgrudava um
segundo se quer do tesouro e com ele desapareceu.
Os dois companheiros que ainda sobreviviam tiveram
comportamentos e sortes diferentes: um deles nadava e lutava incessantemente
contra as altas ondas e estimulava o companheiro a fazer o mesmo, pois, segundo
ele, se assim não o fizesse morreria engolido pelas águas; e de tanto debater
contra a força da natureza morreu.
O terceiro era muito sábio e não deu ouvidos ao companheiro
na hora do desespero; tratou apenas de respirar e manter-se vivo, pois sabia
que nenhuma tempestade dura para sempre.
De fato, a tempestade passou, as ondas desapareceram e ele
pode ver duas ilhas, uma aparentemente perto, a outra razoavelmente longe. Mas
para chegar à que ficava perto era necessário nadar contra a corrente das águas;
já a que ficava bem mais longe estava no sentido em que corriam as águas.
Sua sabedoria o levou tranquilamente, e sem grandes
esforços, para a ilha que ficava mais longe; ao chegar no local encontrou seus
companheiros, jogados pelas ondas sobre a areia, e ali mesmo os sepultou.
Agora como único dono do tesouro que tirara dos braços do
companheiro ambicioso, tratou de saber se estava em território seguro. Os nativos
o receberam com desconfiança, mas como ele não era apegado a bens materiais
tratou de presenteá-los com ouro e joias.
Ele estava certo, pagara ali, sem perceber, a entrada para
seu novo império: por perceber seu grau de sabedoria e desapego a bens materiais
e por terem perdido seu líder recentemente o povo daquela ilha o escolheu como
rei.
Entenda que:
Há uns a riqueza salva, outros cavam com ela a própria sepultura. É preciso
saber a hora de ganhar ou de perder, de se apegar ou de abrir mão.
Nossa sobrevivência depende de raciocínios lógicos e
rápidos, e nossas escolhas farão toda a diferença no futuro.
Às vezes temos que conviver e até dançar com nossos inimigos
e aguardar o momento em que, por si só, se lançarão no precipício. Toda
tempestade passa e toda onda, por mais alta que seja, se quebra na praia.
Trate apenas de manter-se vivo para receber o que foi para
você reservado.
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