24 de dez. de 2011

O tempo não volta




(Por Francesco Costa)

Como está chegando o fim do ano, quero convidar a todos, principalmente, os mais jovens para uma reflexão: antes de ler este artigo crie, na sua imaginação, um cenário e um personagem.
O cenário deve ser um barraco muito pobre, sem as menores condições para uma pessoa, principalmente idosa viver. Longe de tudo, sem amigos ou parentes.
 O personagem é você, mas não como você está agora, mas sim, um velho com mais de 80 anos, magro, doente e solitário, muito solitário.
 Se você não tiver tempo de ler com muita concentração, não leia agora! Espere um momento adequado. Se puder ler agora vá para um lugar solitário, sente-se, recoste-se, confortavelmente. Imagine o cenário e o personagem, sugerido anteriormente, e tenha uma boa leitura!

Hoje parei para pensar. Pensar no tempo que se foi e não volta.
Pensar naquilo que não fiz e não posso mais.
Pensar no que outrora me excitava e hoje, nem mais me interessa!
Hoje estou assim, a mercê de mim mesmo. Tudo o que foi, já não é mais. Tudo o que sobrou agora me falta.
Antes corria olhando ao léu, hoje, ando juntando pedaços.
Hoje pensei no ontem, e me lembrei que não pensava no amanhã.
Porém, o amanhã chegou como visita inesperada, e agora tento adiá-lo e temo ante a impossibilidade de refazer o que não fiz.
Como não me expor ao sol, se árvores não plantei?
Como aquentar o frio, se nenhum abrigo eu edifiquei?
Hoje minhas forças se esvaem e minha tuia está vazia. Claro, não plantei nem estoquei alimentos!
Gostaria de saber, mas não quis aprender!
Quero ganhar, mas como se nunca dei?!
Sinto falta de um abraço, mas, quando pude, a ninguém abracei.
Como queria um afago! Mas lembro a ninguém dei.
Vou à vida caminhando tropeço pelo cansaço, se minhas pernas me levam quando ando me embaraço, vou contemplando os destroços e só vejo meus fracassos, ainda bem que a vista é fraca, se não via mais desgraças.
Um tempo, me lembro, quis ser bom, mas a vida não ajudou. Deu-me sopapos na cara, o desgosto me tomou; amigos que dei a mão, no buraco me jogaram. Passavam a passos largos, riam do meu fracasso e na vala me deixou.
Consegui com muito esforço minha vida refazer, por caminhos pedregosos eu tentava percorrer, tendo a brisa com afago, tomando de um mel amargo para feliz parecer.
Queixar-me? Nunca podia! Para não demonstrar ser fraco, enquanto pude, fiz-me de forte com a ignorância de um macho, mas hoje sou o que vês, um cerne a apodrecer, um resto que incomoda, já estou as caminho da cova, só falta me enterrar.
Tentei deixar bons exemplos, não achei quem os seguissem. O que vi se hoje conto, parece história ou tolice, minhas experiências vão para cova como um livro vai para o lixo.
“Conselho de velho não serve”, um jovem um dia me disse, são lorotas, mau agouros, frutos da caduquice.
Gostaria de revê-los, mas sei que não posso mais, já dobrei todas as esquinas a vida não volta atrás. Tentei nunca escrever isto, brinque, goze sua meninice, mas cuidado bom rapaz.        

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