14 de jun. de 2011

Artigo

O tempo não volta
Por Francesco Costa

Antes de ler este artigo crie na sua imaginação um cenário e um personagem.
O cenário deve ser um barraco muito pobre, sem as menores condições para uma pessoa, principalmente idosa, viver. Longe de tudo, sem amigos ou parentes.
O personagem é você, mas não como você está agora e sim um velho com mais de 80 anos, magro, doente e solitário, muito solitário.
Se você ao tiver tempo de ler com muita concentração, não leia agora; espere um momento adequado.
Se puder ler agora vá para um lugar solitário, sente-se, recoste confortavelmente, imagine o cenário e o personagem, sugerido anteriormente, e boa leitura.

Hoje parei para pensar. Pensar no tempo que se foi e não volta.
Pensar naquilo que não fiz e não posso mais.
Pensar no que outrora me excitava e hoje nem mais me interessa!
Hoje estou assim, a mercê de mim mesmo. Tudo o que foi já não é mais. Tudo o que sobrou agora me falta.
Antes corria olhando ao léu, hoje ando juntando pedaços.
Hoje pensei no ontem, e me lembrei que não pensava no amanhã.
Porém o amanhã chegou como visita inesperada, e agora tento adiá-lo e temo ante a impossibilidade de refazer o que não fiz.
Como não expor-me ao sol, se árvores não plantei?
Como aquentar o frio se abrigo algum edifiquei?
Hoje minhas forças se esvaem e minha tuia está vazia. Claro, não plantei nem estoquei alimentos!
Gostaria de saber, mas não quis aprender!
Quero ganhar, mas como se nunca dei?!
Sinto falta de um abraço, mas, quando pude, a ninguém abracei.
Como queria um afago! Mas lembro a ninguém dei.
Vou na vida caminhando trôpego pelo cansaço, se minhas pernas me levam quando ando me embaraço, vou contemplando os destroços e só vejo meus fracassos, ainda bem que vista é fraca se não via mais desgraças.
Um tempo, me lembro, quis ser bom, mas a vida não ajudou. Me deu sopapos na cara, o desgosto me tomou; amigos que dei a mão no buraco me jogou. Passavam a passos largos, riam do meu fracasso e na vala me deixou.
Consegui com muito esforço minha vida refazer, por caminhos pedregosos eu tentava percorrer, tendo a brisa com afago tomando de um mel amargo para feliz parecer.
Me queixar? Nunca podia! Para não demonstrar ser fraco, enquanto pude me fiz de forte com a ignorância de um macho, mas hoje sou o que vês, um cerne a apodrecer, um resto que incomoda, já estou as caminho da cova só falta me enterrar.
Tentei deixar bons exemplos, não achei quem os seguissem, o que vi se hoje conto parece histórias ou tolice, minhas experiências vão pra cova como um livro vai pro lixo.
“Conselho de velho não serve”, um jovem um dia me disse, são lorotas, mau agouros, frutos da caduquice.
Gostaria de revê-los, mas sei que não posso mais, já dobrei todas as esquinas a vida não volta atrás. Tentei nunca escrever isto, brinque, goze sua meninice, mas cuidado bom rapaz.        

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