9 de jun. de 2011

Entrevista

Marinor Brito (PSOL)


Em entrevista exclusiva, concedida ao jornalista Francesco Costa, a senadora falou sobre a Lei da Ficha Limpa; a comentada volta de Jader Barbalho ao senado, reforma agrária e o massacre dos trabalhadores rurais ocorrido há 15 anos na Curva do S.
Francesco costa (FC) -  Como a senhora avalia a criação da Lei da Ficha Limpa no Brasil?
Marinor Brito (MB) - A Lei Ficha Limpa é uma iniciativa popular, uma expressão da democracia direta prevista na Constituição Brasileira, é o primeiro e único projeto que se transformou em Lei a partir da vontade do povo que desde sua concepção quando coletou as assinaturas Brasil afora era ver fora da disputa eleitoral os candidatos que tem ficha suja e pendência na justiça.
Este tipo de políticos tem se utilizado do poder político  econômico e das maquinas publicas para se favorecer disto e se manter no poder.
Sou uma militante desta causa, ajudei na coleta de assinaturas e portanto defendo que a ocupação dos espaços na disputa eleitoral seja feita por pessoas de bem; de bem como o povo trabalhador deste país. Parte deste povo decente tem sido alijado de participar desta disputa.
Tenho orgulho de ser senadora da república e ser fruto da luta pela ética na política. A Lei da Ficha Limpa expressa o sentimento do povo brasileiro que conseguiu deixar de fora da disputa eleitoral em 2010 mais de 70% dos candidatos que disputaram vinculados à esta lei. Infelizmente aqui no Pará os 30% que permaneceram impunes obtiveram uma grande expressão do voto do eleitor e hoje ameaçam a democracia brasileira, como é o caso de Jader Barbalho.
(FC) - Em sua opinião o que ainda induz o eleitor a votar nestes candidatos ficha suja mesmo tendo conhecimento do seu passado?  
MB - Precisa ser feito um estudo antopológico  e sociológico com desfecho em uma grande pesquisa para entendermos como vota o eleitor brasileiro; quais são suas perspectivas ao dar seu voto.
Mas com certeza um dos fatores que mantem este tipo de político no poder é a fome, a miséria, o despreparo, a falta de oportunidade, a troca de favores, o processo eleitoral é feito sem fiscalização, corrupto e ainda engana as pessoas. O povo troca o voto por uma cesta básica, uma enxada, uma cirurgia, uma medicação ou outra situação de emergência vinda da vida ou da pobreza. Situação que só entende quem passa por ela, quem passa ou já passou fome ou se encontra em situação de vulnerabilidade social.
É isto que tem provocado homens e mulheres honestos a ocuparem cargos públicos, sobretudo a partir do voto do povo. Vejo com tristeza ainda esta deficiência do processo eleitoral no Brasil, mas vejo também com alegria que isto está diminuindo. A Lei da Ficha Limpa teve esta mobilização a exemplo do que aconteceu nesta última disputa, 2010, que já dá bons sinais. Existem casos de eleitores que até recebem o dinheiro ou o beneficio do candidato, mas vota em outro.
(FC) - Existe muita gente que diz não gostar da política por que nela só tem desonestos, a senhora acha que são exatamente estes que estão faltando na disputa pelos cargos eleitorais?
MB - Exatamente. Tenho orgulho de fazer parte desta pequena parcela que está no Congresso Nacional tendo chegado lá pelo voto e opinião de pessoas honestas que não metem a mão no dinheiro publico e conquistaram o voto pelo que representam e pelas lutas realizadas.
Esta fase de dizer que religião, futebol e política não se discute está passando. Muita gente está usando seu papel de religioso para enganar o povo; no futebol a cartolagem tem colocado pessoas a ocuparem cargos políticos. Infelizmente na política brasileira não tinha espaço para mulheres ou pobres, hoje a política está franqueando espaço para pessoas que se interessam em faze a diferença.
Estou no senado, resistindo esta lógica perversa da justiça brasileira que apóia as elites e os criminosos. É preciso que a justiça acompanhe a vontade do povo; estou nesta luta e farei de tudo para vencer esta questão.
(FC) - Existem deputados e senadores que resistem em aprovar a Lei da Ficha Limpa?       
MB - Sim, é claro que existem. São os oportunistas de plantão, e não vão deixar de ser, que precisam se apropria do poder para se manterem nele.
E é por isto que existem esforços para acabar com a Lei da Ficha Limpa.
A OAB está entrando com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade e a gente espera que a justiça brasileira mantenha a esta lei e que nas próximas eleições estas pessoas que enlamearam a classe política fiquem de fora do processo eleitoral.
(FC) - Ventilam muito sobre o retorno do Jader Barbalho ao Senado, tem prefeitos comemorando até com outdoor; o que tem de verdade nisto?

Jader Barbalho, barrado pela Lei "Ficha Limpa"
 
MB - Acho que o povo paraense precisa saber que o Jader não assumiu o mandado de senador. Eu sou a senadora da republica na luta pelo povo do Pará e vou exercer meu mandato com dignidade. Farei de tudo para impedir a chegada dos fichas sujas no senado federal. 
Uma prova de meu empenho é que denunciei, ao Ministério Público, mais um patrimônio não declarado de Jader Barbalho, no valor de R$ 20 milhoes. Trata-se da TV e Rádio Tapajós em Santarém que ele não declarou à justiça eleitoral. Já são dez anos sonegando impostos destas empresas e enriquecendo ainda mais; isto é mais uma prova da falta de fiscalização.
Acredito que ele vá responder criminalmente, civilmente e eleitoralmente; isto pode resultar em pelo menos cinco anos de cadeia.
Quem já está comemorando é bom guardar o bolo e ainda não acender as velas; baixe o volume do som porque a Senadora Marinor Brito ainda está no senado e não vai ser fácil este corrupto chegar lá. Ele pode até chegar, pois infelizmente tem uma parcela da justiça brasileira que apóia a corrupção no país, mas ele vai precisar vender recursos dele para comprar muita gente e sentar no meu lugar.
Tenho enfrentado um boicote natural do presidente do senado, José Sarney, e do PMDB em relação aos mandatos de esquerda de um modo geral e não seria diferente comigo, mas tenho botado o dedo na cara do presidente Sarney e dito a ele: ninguém aqui é mais senadora do que eu, os meus direitos vou exercer até o final.  Como exigi recentemente que fosse liberado um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para que eu fizesse uma diligência na cidade de Altamira, tentaram negar e eu fui para cima e meu pedido foi atendido.
Eu sou a senadora, quem deve a justiça são eles.    
(FC) - Como a senhora avalia o processo de reforma agrária no Brasil?    
MB - Muitos trabalhadores rurais tem se mobilizado para conseguir um pedaço de terra e brigado junto aos bancos públicos para conseguir um financiamento para tocar seus projetos na agricultura familiar.
Infelizmente a política do governo federal nestes dois mandatos do governo Lula não avançou no processo de Reforma Agrária. Não teve política de Reforma Agrária tanto é que as ocupações e as resistências continuam; trabalhadores continuam sendo perseguidos. Precisamos fazer um movimento junto ao executivo brasileiro para que parem com o discurso em favor do povo brasileiro sem que se tome atitude para beneficiar nosso povo.
O orçamento de 2010 aprovado pelo governo federal executado pelo governo Lula retirou dos cofres públicos mais da metade do pagamento da dívida pública. Dívida que não foi feita pela classe trabalhadora e sim pelas elites em concordância com os bancos internacionais e o FMI e outras formas de relacionamentos que tem favorecido os grandes empreendimentos no Brasil.
Se você quer ser condutor de uma política que combata a fome e a miséria do povo brasileiro e tem a reforma agrária como um eixo importante para o desenvolvimento do país faça a reforma a Reforma Agrária investindo nos programas sociais e não faça contigenciamento de R$ 50 bilhoes como fez a presidente Dilma Rousseff, retirando dos programas sociais e ministérios que atuam no enfrentamento da pobreza, da fome e da miséria.
A Bolsa Familia é um elemento importante para quem está passando fome, mas não pode servir como único instrumento que o governo utiliza porque ela não dá emprego nem dignidade para a classe trabalhadora. Nenhum pai ou mãe de família que quer ter o controle sobre sua família e construir um futuro melhor para os seus conseguirá apenas com dinheiro da Bolsa Família. O povo quer emprego, renda, oportunidade de trabalhar no que ele tem mais afinidade, para isto se qualificando e interagindo com as iniciativas púbica e privada. 
Lamentavelmente não vejo aceno nem luz no final do túnel em relação ao governo Dilma, que está tomando as mesmas conduções do governo Lula que não fez reforma Agrária.
(FC) - 15 anos depois do massacre dos trabalhadores em Eldorado do Carajás, como a senhora avalia a atuação nas investigações e julgamento dos culpados e o amparo para as vítimas?     
MB - Estou na luta com o MST há muitos anos e percebo que a impunidade persiste; prova disto é que o principal mandante e nenhum dos envolvidos foram punidos. Os dois que foram julgados estão em casa, gozando de total liberdade que foi cerceada dos que morreram no massacre e das vítimas que são as famílias que ficaram órfãs que ainda não receberam o devido reconhecimento da obrigação que o Estado tem de ampara estas famílias atacadas pelas tropas do governo.
(Francesco Costa para a INRevista)

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